A Terra Indígena Marãiwatsédé, localizada no nordeste de Mato Grosso, vive um momento crítico de saúde pública. Em um curto período, foram registradas três mortes consideradas evitáveis: um bebê de um ano vítima de desnutrição, uma gestante que apresentava síndrome respiratória aguda e uma jovem que faleceu em decorrência de um apêndice supurado. A situação tem alarmado a população local e mobilizado organizações indigenistas.
De acordo com a Operação Amazônia Nativa (OPAN), que mantém equipe indigenista em campo, há uma crescente incidência de desnutrição infantil e doenças respiratórias, como pneumonia e tuberculose, entre os Xavante que habitam a TI Marãiwatsédé. Em carta enviada na sexta-feira (16) à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), a OPAN solicitou intervenção urgente dos órgãos federais.
A organização aponta que a infraestrutura de atendimento à saúde no território é extremamente precária. Os dois veículos da Sesai que atendem o polo base de Marãiwatsédé estão quebrados, o que inviabiliza o deslocamento da equipe de saúde até as 21 aldeias que compõem a terra indígena. A ausência de um coordenador no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante agrava ainda mais o cenário, dificultando a articulação e a resposta às emergências.
Com população estimada em 1.160 pessoas, segundo o Censo 2022 do IBGE, a TI Marãiwatsédé enfrenta também consequências históricas da retirada forçada dos Xavante de seu território em 1966. O retorno só foi possível em 2004, e a desintrusão definitiva dos posseiros e fazendeiros ocorreu quase uma década depois, em 2013. Durante os 40 anos em que estiveram fora, aproximadamente 70% da vegetação nativa da área foi desmatada, afetando diretamente a segurança alimentar da população indígena.
A OPAN reforça que o enfrentamento à desnutrição e às doenças respiratórias exige um diagnóstico preciso, construído em diálogo com agentes indígenas de saúde, lideranças comunitárias e profissionais especializados. A entidade também alerta para a necessidade de envolvimento direto e contínuo da Funai, da Sesai e de demais órgãos públicos no planejamento e execução de medidas que assegurem o direito à saúde e à vida dos povos originários.
“Frente a este quadro desafiador, solicitamos urgência no acompanhamento direto das situações relatadas. A Funai, a Sesai e outros órgãos responsáveis, em diálogo com a comunidade, podem contribuir com soluções mais amplas”, pontua o comunicado assinado pela Operação Amazônia Nativa, emitido a partir de sua sede em Cuiabá.