Redes comunitárias impulsionam restauração ambiental com sementes nativas 5k1o6l

Coletoras e coletores de sementes nativas no Xingu garantem renda e fornecem insumos para projetos de restauração florestal nos biomas Amazônia e Cerrado. 291v72

Fonte: CenárioMT

Redes comunitárias impulsionam restauração ambiental com sementes nativas
Foto: LILIANE FARIAS/AGÊNCIA BRASIL

Vera Oliveira, moradora de Nova Xavantina (MT), encontrou na coleta de sementes uma forma de se conectar com a natureza e garantir sua principal fonte de renda. Com quase dez anos atuando em uma rede de coletores da região do Xingu, ela ajuda a fornecer sementes para projetos de restauração ambiental que abrangem os biomas do Cerrado e da Amazônia.

“Eu me criei na fazenda. Quando era criança, meu pai sempre ensinava o nome das árvores, e eu gostava muito de andar pelo mato”, relata Vera.

Desde 2004, a Rede de Sementes do Xingu (RSX) atua para restaurar as margens degradadas do rio Xingu, que nasce em Mato Grosso e percorre diferentes biomas até sua foz no Pará. A rede, que já conta com cerca de 700 coletores, fornece sementes para empresas, fazendeiros e instituições dedicadas à restauração florestal.

“A RSX surgiu da necessidade de cuidar da saúde do rio plantando em suas margens e cabeceiras, e para isso era fundamental garantir sementes”, explica Lia Domingues, coordenadora da rede.

A técnica utilizada é a semeadura direta da “muvuca de sementes” — uma mistura de diferentes espécies que é espalhada diretamente no solo, imitando o processo natural de regeneração da vegetação. Essa metodologia se mostrou mais eficaz que o plantio tradicional de mudas na região.

“Com a muvuca, lançamos várias espécies de diferentes ciclos de vida, que germinam conforme as condições do ambiente, reproduzindo a sucessão ecológica natural”, comenta a engenheira florestal Aline Ferragutti, que acompanha o projeto.

Além de espécies nativas, a mistura inclui plantas de ciclo rápido, como feijão-guandu e girassol, que ajudam a controlar espécies invasoras e enriquecem o solo ao final de seu ciclo.

Em 2024, as redes articuladas pelo Instituto Socioambiental comercializaram cerca de 18,5 toneladas de sementes, mas a RSX, de forma independente, chegou a fornecer 30 toneladas, demonstrando a relevância do trabalho local.

Empresas como a Energisa utilizam essas sementes para restaurar centenas de hectares, por meio de programas de compensação ambiental, promovendo a recuperação de áreas degradadas no Xingu.

“Sabemos dos impactos que nosso negócio causa, por isso investimos na mitigação e restauração ambiental”, afirma Michelle Almeida, coordenadora de Sustentabilidade da empresa.

Além do impacto ambiental positivo, a coleta gera renda para famílias indígenas, quilombolas e moradores locais. Vera Oliveira é um exemplo: após deixar o trabalho doméstico, ela ou a sustentar a família com a renda das sementes, adquirindo bens e melhorando sua qualidade de vida.

“Com as sementes, comprei bicicleta, moto, carro e reformei minha casa. Hoje minha filha sabe que não vamos ar fome”, conta Vera.

A rede também proporciona fortalecimento comunitário, liderança feminina e benefícios à saúde mental dos envolvidos, especialmente nas comunidades indígenas, segundo Lia Domingues.